Na sexta-feira (26/08), terceiro e último dia do I Colóquio Nacional sobre o Clima: diálogos para pesquisas acadêmicas e cobertura jornalística, foram discutidos os temas: Leis no combate à desinformação e transparência de recursos ambientais e PL das Fake News x Indústria da Desinformação.
Os temas foram abordados pelos palestrantes Matias Felipe, pesquisador e jornalista no projeto *Desinformante; Taís Sebit, gerente do projeto WikiLAI na agência de dados Fiquem Sabendo e Daniel Veiga, advogado e associado titular do IBERC; Rodrigo Vieira, pesquisador-líder do Digicult/UFERSA; Viviane Tavares, secretária executiva do Intervozes e Manoel Bastos, presidente da Ulepicc-Brasil.
Taís Sebit abordou a questão dos desafios na busca de dados públicos e a falta de transparência, principalmente sobre recursos ambientais. Na oportunidade, Seibt destacou a atuação da agência de dados Fiquem Sabendo, que desenvolveu a WikiLAI, plataforma lançada no ano passado com apoio da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil. A pesquisadora mencionou que o site, em formato semelhante ao da Wikipédia, possui verbetes que ensinam a usar a LAI na prática e explicam detalhadamente como funciona a transparência pública brasileira sob o olhar dos usuários.
“Precisamos de informação para conseguir enfrentar os problemas. Precisamos ter bons dados quanto para análises. Ou seja, precisamos de banco de dados sérios para enfrentar problemas sérios.”
Daniel Veiga apontou que existe uma desinformação desenfreada sobre a transparência no trato dos recursos ambientais e que está atrelada a problemas sérios, como antropocentrismo, utilitarismo, monetização dos bens ambientais, negacionismo, mudança climática, socialização dos danos etc.
“No cenário atual, há atores sociais e atores políticos que politizam ações para proteção ambiental, ou para negar a necessidade de proteção. E há também mercadores da dúvida, que divulgam questionamentos sem fundamento científico, ou seja, fake science, para negar os problemas ambientais em prol do desenvolvimento econômico. Um exemplo desse cenário é o filme chamado Uma Verdade Inconveniente, que trata sobre aquecimento global e teorias negacionistas sobre o assunto. E infelizmente, muitas das coisas tratadas sobre problemas ambientais na internet são retratadas de forma supérflua pelos mercadores da dúvida, que tentam descontruir narrativas científicas sobre o meio ambiente apontando soluções simples para problemas que merecem maior atenção e soluções mais profundas”, disse o advogado e associado titular do IBERC.
O Coletivo Intervozes atua com pesquisas sobre o ecossistema de desinformação na Amazônia e difusão de discursos de ódio. Viviane Tavares, secretária executiva do Intervozes, e coordenadora do grupo de trabalho (GT) sobre o combate à desinformação da Amazônia, destacou o relatório de 200 páginas feito pela entidade sobre desinformação na região.
“Fizemos o levantamento de 200 páginas que propagam a desinformação na região. Dessas 200, recortamos para 70, assim obter uma avaliação mais concreta. Conseguimos detectar três grandes grupos de propagação da desinformação que classificamos como grupos de extrema direita, grupos políticos e de ditos veículos jornalísticos. Além disso, escrevemos uma carta de reivindicações às plataformas sobre como elas poderiam alterar seus algoritmos, seus termos de uso, enfim, suas bibliotecas. De como isso poderia ser alterado para uma eleição mais limpa.”
O pesquisador-líder do Digicult/UFERSA, Rodrigo Vieira, destacou elementos que preocupam a sociedade civil e a academia.
“Há alguns elementos que preocupam de fato não só a academia, mas também a sociedade civil. Mas é de se ressaltar que o novo estilo que o PL acaba por assumir presta mais atenção nos direitos digitais, nos direitos fundamentais dos usuários das plataformas. Isso implica estabelecer também algumas responsabilidades para o que acontece nas plataformas em relação à disseminação da desinformação”, observou o pesquisador.
Rodrigo também falou sobre a tentativa de regularizar as utilizações de contas de servidores públicos e agentes políticos que, segundo o pesquisador, são os principais disseminadores da desinformação no país.
“Para além disso, também, existe uma tentativa de regularizar ou moralizar aquelas utilizações de contas, de perfis, etc, que são oficiais dos servidores públicos, mas dos agentes políticos, principalmente. Porque a gente sabe que esses perfis associados a esses grupos, embora tenham uma liberdade de expressão e etc, mas também são uns dos principais veículos e disseminadores da desinformação no país’, disse o pesquisador.
Na mesa, o professor e presidente da Ulepicc-Brasil, Manoel Bastos Dourado, destacou o papel dos estudos da Economia Política da Desinformação, principalmente a importância de César Ricardo Siqueira Bolaño, e também explanou sobre a indústria da desinformação e a atuação das plataformas digitais.
O I Colóquio Nacional sobre o Clima, com realização da COAR, ocorreu entre os dias 24 e 26 de agosto de forma remota. O evento recebeu representantes de entidades ambientais e jornalísticas, que se reuniram para um debate aprofundado sobre desinformação climática e com o objetivo de apontar possibilidades e soluções para uma Amazônia livre e sustentável, além de levantar discussões relacionadas aos desertos de notícias e violência de gênero.
Quem não conseguiu acompanhar o evento ao vivo pode assistir à apresentação das sete mesas pelo YouTube, no canal da COAR, acesse aqui.