Por Adélia Machado e Pedro Mateus Ferreira
Revisado por Marta Alencar
Apesar dos avanços no mercado de trabalho, falta de inclusão é um dos maiores entraves para pessoas com deficiência (PCDs), que convivem diariamente com o preconceito, exclusão e poucos postos de trabalho.
O Piauí é o quinto Estado brasileiro com o maior percentual de PCDs, segundo a pesquisa realizada, em 2019, pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que conta com 308 mil pessoas com deficiência, um percentual de 9,7% da população.
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2019, apenas metade das vagas destinadas às pessoas com deficiência foram preenchidas no mercado, totalizando cerca de 56%. Com a pandemia do coronavírus a procura e as oportunidades, que já eram baixas, decaiu ainda mais.
Desafios no mercado de trabalho
Os avanços em relação à inclusão no mercado de trabalho piauiense devem ultrapassar da disponibilização de vagas para a contratação de PCDs, são questões que devem caminhar de mãos dadas com a missão das empresas e instituições do Estado. A falta de oportunidade aliada à desinformação gera exclusão.
Nayara Fernandes, PCD e graduanda de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí, destaca que os desafios desse público incluem desinformação, resistência e intolerância.
“As principais dificuldades à inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho do Piauí incluem desinformação, resistência e intolerância quanto aos gestores acerca desta comunidade. Pelos quais são promotores de atitudes preconceituosas, gestão do ambiente de trabalho defasados, gerando isolamento da PCD, e os problemas emocionais enquanto opressão em relação ao direito de igualdade”, afirma.
Um ambiente de inclusão vai além de obedecer ao que a lei estabelece, pois de acordo com o artigo n⁰ 93 da Lei nº 8.213/91, é determinado que empresas com mais de 100 empregados devem reservar um número mínimo de seus cargos para empregados reabilitados ou para pessoas com deficiência. Contudo, se não houver elementos e meios para o bem estar, adaptação e compreensão de pessoas com deficiência, o processo de inclusão se torna totalmente falho.
Mauro Eduardo, secretário de Estado para Inclusão da Pessoa com Deficiência, narra como a pasta atua no Piauí. “A SEID busca a inclusão de forma a conscientizar a sociedade piauiense dos direitos das pessoas com deficiência, pois não queremos que a sociedade veja PCDs como incapazes. A secretaria faz esse trabalho por meio de campanhas educativas e através de eventos como a 1° edição da Cidade Inclusiva, que busca o conceito de uma cidade inclusiva.”
Convém informar que Governo do Piauí, por meio da Secretaria de Estado para Inclusão da Pessoa com Deficiência (Seid), em parceria com o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Conede-PI), em dezembro de 2022. O projeto Cidade Inclusiva terá quatro edições voltadas para as pessoas com deficiência em Teresina, uma em cada região da cidade. A programação conta com palestras, apresentações e exposições. O objetivo é facilitar a socialização das informações e o acesso aos serviços prestados pelas redes pública e privada de atenção às pessoas com deficiência e demais parceiros.
Acessibilidade para todos
Para a gestora de recursos humanos, Tânia Soares, os empresários do Piauí ainda não se sensibilizaram com colaboradores deficientes. “As empresas mais fiscalizadas e que tem o maior número de colaboradores vem realizando contratações de pessoas com deficiência, mas ainda é um número abaixo do desejado. Quanto à estrutura, acredito que seja um dos grandes desafios das contratações. A visão das empresas é que já trabalham no limite das despesas e cargas tributárias, o que elas poderem fazer para evitar mais um custo, vão fazer. Isso é lamentável, porque para essas empresas contratar pessoas com deficiências, elas precisam investir em estrutura, seja física ou capital intelectual para fazer a integração, treinamento e acompanhamento”, esclareceu.
Larissa Pontes, uma das fundadoras da iniciativa ‘Eficientes’, uma organização de Jornalismo Independente que leva informação acessível e de qualidade, destaca sobre os pontos que contribuem com a exclusão e a dificuldade de PCDs adentrarem no mercado de trabalho.
“Através do trabalho que a iniciativa vem fazendo e percebendo, o problema de contratação de pessoas com deficiência é um cenário a nível nacional. Hoje, no Brasil, de acordo com IBGE, do censo de 2010, existem 45 milhões de PCDs no país, e apenas 1% delas estão no mercado de trabalho, sendo a maioria em cargos de subemprego. Essa realidade acontece porque as empresas estão preocupadas apenas em cumprir a lei de cotas, para não pagarem multa.”
Além disso, a fundadora da iniciativa Eficientes chama atenção para a falta de acessibilidade nas cidades e dentro das empresas, uma verdadeira barreira física para PCDs, se tratando de ruas, calçadas e transporte público. Em relação às empresas, muitas não são acessíveis, se tratando da parte física e até mesmo em relação à cultura da instituição.
Terminologias: a inclusão começa com o respeito
Muitas são as terminologias, usadas ao se referir às PCDs, que ganharam espaço na sociedade com enraizamento no preconceito, estereótipos e falta de conhecimento. Com o intuito de contribuir com a abrangência do conhecimento, respeito e inclusão, entender o processo de substituição de terminologias se torna essencial para a construção de uma sociedade desenvolvida e à caminho da verdadeira inclusão.
TERMO INCORRETO | EXPLICAÇÃO | TERMO CORRETO |
Pessoa Excepcional | utilizado nas décadas de 50/60/70, esse termo era usado para se referir às pessoas com deficiência mental. Geralmente se referiam a essas pessoas por apresentarem inteligência abaixo da média. | Pessoa com Deficiência intelectual |
Doente mental | Utilizado com frequência antigamente para se referir às pessoas com déficit intelectual. | Pessoa com Deficiência intelectual |
Mudinho | Termo frequentemente utilizado em tempos atrás para se referir às pessoas com deficiência auditiva. Era um grande causador de preconceito, vez que o surdo era diminuído por não saber falar e não ser considerado “completo”. | Pessoa Surda, Pessoa com Deficiência auditiva. |
Aleijado; defeituoso, incapaz ou invalido | termo utilizado antigamente para se referir às pessoas com deficiência física. | Pessoas com Deficiência (PCDs) |
Referências da COAR:
Cidade Verde
SEID
Eficientes